quarta-feira, 26 de maio de 2010

Beirada do dia





O espaço era propício e ao firmar cada passo no chão, forma, som, entrelaço armado... Confesso que houve momentos que nao ouvi, perdi a completa sensação. Era um quase nao existir. O grupo era tão junto ali, naquele momento de sensaçoes do intenso. Por pouco, o padrão de luz envenenado, que atrasou o show em quase uma hora no domingo, mas nao deu pé pra qualquer ziguizira. Fizemos o show com a certeza e incertezas, tudo junto, e porque não?Cada tropeço era um risco a mais. O Pererê surgiu num mestre, com seu canto potente e carisma, que pareceu ocupar todo espaço. Agradecemos os amigos , ao público novo que foram e saborearam essas novas composiçoes tão quentes, saídas do forno. Experiência bem nova pro grupo, pra quem não sabe, foi a primeira vez do Urucum num teatro, sempre tocamos em festas, festivais ,calouradas e afins, essa nova onda permitiu outras sensações. Agora estamos fechando a pesquisa que será postada nesse blog e abaixo acrescento um pouco sobre o espetaculo para quem nao conheceu pra ficar com vontade de conhecer, no nosso myspace tem as gravaçoes ao vivo do show e no youtube tem videos do show. www.myspace.com/grupourucumnacara e http://www.youtube.com/watch?v=-fwSsyZQfuI



À BEIRA DO DIA”
Através de músicas que levam o espectador a se identificar com os sons de seu próprio cotidiano, o show foi montado como a duração do dia: o amanhecer e o entardecer. “À Beira do Dia”, trecho da música “Clarear”, sugere o limite do dia, nascimento e morte, cíclico e transponível. Parar diante do desse fragmento do tempo e observar os elementos e sons que o compõe, por meio do encontro, inesperado, do erudito e do popular, que na verdade sempre existiu. Não como um contraste, mas como uma composição de elementos.

O espetáculo também sugere a sensação de dilatação do tempo, muito presente nas festas do Rosário, onde cada música tem um sentido, um momento certo e a duração indefinida, assim como a festa que dura dias e sempre com muita música. Desta forma, o show segue a temporalidade destas festas, como na música “Elefantodonte”, que brinca com os sons até causar a sensação de que este tempo foi dilatado, estendido.

O cenário, montado com cinco fios, lembra uma pauta musical, ou um poste do interior de um bairro da grande metrópole. No entanto, ao invés das notas, estão presentes elementos do cotidiano urbano e interiorano, como tênis dependurados e pipas. Já o figurino, predominantemente branco e vermelho, remete à espiritualidade, religiosidade e também à luta, batalha e ao próprio urucum. As cores branca e vermelha são muito presentes nas festas de congado.

O Grupo Urucum na cara acredita que o encontro da sonoridade da música popular inspirada no congado mineiro com a música erudita contemporânea pode gerar novas linguagens e estéticas musicais e contribuir com a diversidade do cenário musical de Belo Horizonte. Além de “À Beira do Dia”, está prevista a criação de um registro online de todo esse processo de pesquisa. Nele, estarão edições das entrevistas com reis, rainhas e capitães dos reinados de Nossa Senhora do Rosário, além de artistas que abordam o congado em seu trabalho, como Titane, Maurício Tizumba, Sérgio Pererê, Sergio Santos e Yuri Popovi. Também serão disponibilizadas as partituras, cifras e letras das músicas compostas durante o processo. O registro da pesquisa expõe os procedimentos de composição, os conflitos vivenciados pelo grupo e as soluções encontradas. Toda a pesquisa estará no endereço http://urucumnacara.blogspot.com e seu conteúdo será postado em junho.
Percebe-se que o Brasil moderno se debruçou sobre sua cultura popular, levando para os salões da classe média e das elites, a música popular. A partir daí, o encontro do erudito com o popular se tornou uma constante na produção da música erudita, como no movimento nacionalista de Villa Lobos e Mário de Andrade. O tropicalismo deu sequência à recriação estética a partir de misturas de rock, blues e outros gêneros. Recentemente, em Belo Horizonte, artistas como Sérgio Pererê e Maurício Tizumba têm apresentado trabalhos musicais em que o congado mineiro é abordado. Tudo isso comprova a afirmativa de Luiz Tatit, em que diz ser "...impossível estudar a cultura brasileira sem considerar os seus processos de mistura...”

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